Neste artigo apresentando na 7º Conferência Mundial de Seminários do Conselho Luterano Internacional (ILC), que ocorreu na cidade de Baguio, Filipinas, nos dias 15 a 18 de outubro de 2019, Dr. Klän aborda dois temas em seu artigo, que por vezes são colocados como antagônicos, mas que ele entende deverem caminhar juntos. Por um lado, nestes tempos difíceis que vivemos, em que o anúncio da Palavra de Deus é muitas vezes diluído em mensagem de origem humana, Klän argumenta pela fiel proclamação da verdade bíblica, tendo os Credos Ecumênicos e as Confissões Luteranas como testemunhos fiéis do evangelho. Por outro lado, o contexto em que a igreja está não pode ser subestimado. A fidelidade no anúncio do evangelho inclui um olhar atento para o local onde Deus colocou seu povo, com as peculiaridades do tempo e do espaço. Klän conclui com um chamamento a que luteranos confessionais valorizem sua unidade de fé e avancem na busca de um testemunho comum no mundo atual, em cujo propósito a ILC deveria ter um papel fundamental.
A CONFISSÃO É CRUCIAL E O CONTEXTO É IMPORTANTE[1]
Dr. Werner Klän[2]
UM ESBOÇO
Para Lutero é de importância central levar a sério a existência da igreja, ou do “cristianismo”, como ele prefere dizer,[3] e a prioridade da comunidade dos fiéis sobre a sua própria crença. Este compromisso com a igreja impede que a pessoa se identifique como um indivíduo atomizado com a sua própria crença e piedade privadas e a leva a ver-se dentro de uma comunidade de fé, que é sempre anterior a si mesmo e da qual Deus Espírito Santo se serve para a realização da sua obra.[4]
Esta abordagem inclui também uma dimensão ecumênica – usando o termo “ecumênico” no melhor sentido: se você olhar para a primeira página da primeira parte do Livro de Concórdia, você encontrará a rubrica “Tria Symbola catholica sive oecumenica” (Os Três Credos Ecumênicos).5 Os luteranos realmente se entendem como sendo ao mesmo tempo evangélicos, católicos, ortodoxos e ecumênicos no melhor sentido da palavra e professando uma igreja que durará para sempre. “Também é ensinado que em todos os tempos deve haver e permanecer uma santa igreja cristã.”[5]
Traduzir, porém, é inevitável para qualquer esforço teológico: a tradução – linguística, cultural, contextual, histórica, ecumênica, para não mencionar o nosso trabalho diário como professores e pregadores – é a nossa tarefa. Contudo, o cristianismo tem e continua a ter a obrigação de ser crítico em relação à sua própria contemporaneidade.
As Confissões Luteranas, portanto, podem ser e pretendem ser uma diretriz para a compreensão do que é a fé cristã, do que é a vida cristã, e, com isso, se quer dizer como podemos existir e conduzir nossas vidas aos olhos de Deus.
O que se exige de nós, então, é uma resposta teológica aos desafios que nós, como igrejas confessionais luteranas, pastores e estudiosos estamos enfrentando em nosso tempo e às situações específicas e condições de vida em nossos vários países, continentes e climas.
IDENTIDADE CONFESSIONAL
A identidade luterana não é, antes de tudo, uma identidade especial; ela reivindica a catolicidade. Como na Reforma, renovar a igreja significa permanecer fiel à única, santa, igreja católica.[6] Por essa razão, a renovação da igreja na Reforma e depois dela tem sido repetidamente acompanhada pelo recurso às Escrituras, como origem e documento básico da fé. Pois o evangelho, cuja redescoberta e preservação foram as principais preocupações da Reforma, é de fato o mesmo evangelho do qual os apóstolos e os profetas dão testemunho nas Sagradas Escrituras, e não pode ser outro evangelho (Gl 1.7).
A existência e a unidade da igreja dependem de uma e a mesma coisa: do evangelho na forma do anúncio da Palavra, de acordo com a Escritura, e dos sacramentos administrados em conformidade com a sua instituição. Aqui consiste a identidade da igreja luterana.[7]
Segundo Hermann Sasse, a igreja luterana é “a igreja confessional por excelência”. E, de fato, o hábito confessional é significativo para o perfil da fé, teologia e igreja luteranas, e, portanto, uma marca inconfundível da identidade luterana. No entanto, desde o início, a fé bíblica tem se esforçado em responder à Palavra de Deus, louvando-o. A fé cristã sempre incluiu prestar contas pelo seu conteúdo, tanto a Deus como à humanidade. Desde os primeiros tempos do cristianismo, os crentes estavam ansiosos para expressar a sua fé em uníssono.
A igreja luterana, porém, de uma maneira especial, é caracterizada como sendo “confessional”. Isso se deve ao fato de que “confissão”, no uso luterano do termo, significa uma reação responsável à ação criadora da fé por parte de Deus através de sua Palavra, expressando não apenas as convicções “privadas” de uma pessoa sobre assuntos religiosos, mas formulando um acordo sobre a característica obrigatória da fé cristã, revelando a conformidade da crença de uma pessoa com as Escrituras e, portanto, com a doutrina da igreja.
Assim, as Confissões concentram-se no centro da Escritura, ou seja, no evangelho, do qual Jesus Cristo é a quintessência e a realidade viva. Estes documentos não pretendem ser nada mais do que uma apresentação da verdade bíblica, concentrada no evangelho – daí o evangelho não ser entendido como uma colocação de proposições corretas, mas sim entendido como um evento no qual Deus se comunica a si mesmo, no qual Deus se comunica ao homem e, de fato, salvificamente.
É verdade, porém, que a confissão de fé, sobretudo a confissão doutrinal (luterana), é uma introdução às Escrituras e, ao mesmo tempo, focalizana Escritura a partir de dentro da própria Escritura. Este movimento tem, de fato, uma estrutura inevitavelmente autorreferencial. Portanto, é correto falar de um “círculo hermenêutico”.
Assim, as confissões de fé luteranas não são simplesmente “instruções sobre” o evangelho, proposições e teoria, nem são simplesmente uma “introdução” ao evangelho, mas uma diretriz para fazer aplicação prática do evangelho a fim de enfrentar certas situações existenciais, especialmente a do ser humano como pecador diante de Deus.
Confessar, neste entendimento, é um ato de fé (cristã), que é criado pela própria Palavra de Deus, com a qual a fé está relacionada (KOLB, 1991, p.22ss). No seu sentido essencialmente evangélico, a Palavra de Deus é a sua promessa
2004) an ihre Kirchen, ibid. 28f.; for the northern American context cf. Samuel H. Nafzger: The Lutheran Understanding of Church Fellowship and its Practice with Ecclesiastical Accountability: A Missouri Synod Perspective, ibid., 61-89; Robert Rosin: The Lutheran Church – Missouri Synod and Europe, ibid., 112-115.
de salvação que chama à fé, e ao fazê-lo, transmite a fé que é capaz de aceitar a promessa de Deus. Lutero, de fato, indica o que ele chama de “correlação de promessa e fé” (promissio ac fides sunt correlativa). Como o evangelho reconta e transmite a ação de Deus ao crente, confessar o evangelho é a reação “natural” da fé – sendo a própria fé um dom de Deus (KOLB, 1991, p.21). A fé, portanto, não pode deixar de se expressar em termos de confissão. Por outro lado, essa confissão é “dependente” e “iniciada pela... Palavra de Deus” (KOLB, 1991, p.17). No entanto, ela é sempre contemporânea e contextual.
Na confissão de Lutero de 1528, a dimensão contemporânea e, ao mesmo tempo, escatológica do seu conceito de confissão torna-se perceptível. Muito além de ser apenas um ato pessoal de um único indivíduo, este tipo de testamento foi concebido por Lutero como um testemunho pessoal e, ao mesmo tempo, uma verdadeira expressão da fé que todo o cristianismo compartilha: “Esta é a minha fé, pois assim creem todos os verdadeiros cristãos e assim nos ensinam as Sagradas Escrituras”. Assim, um testemunho pessoal de fé não pode ser, por definição, diferente daquilo no que a una santa igreja católica tem crido e confessado desde o início.
Nos documentos confessionais da igreja luterana que observam o padrão de Lutero, como a Confissão de Augsburgo, de 1530, é portanto de grande importância chegar a um entendimento, ou estabelecer um “consenso”, sobre o que de fato é este evangelho: “Basta para a verdadeira unidade da igreja cristã [singular, cf. o texto latino: ad veram unitatem ecclesiae] que o evangelho seja pregado harmoniosamente segundo um entendimento puro e que os sacramentos sejam administrados em conformidade com a Palavra divina”.
A identidade luterana é posta em prática, portanto, demonstrando conformidade com os fundamentos em todas as áreas de atividade – em cada sermão, na educação cristã, na formação da próxima geração eclesial. É, portanto, também necessária. Assim, as confissões de fé circunscrevem e definem uma esfera, um quadro, no qual é possível a proclamação eclesiástica legítima.
Além disso, podemos observar que os autores das Confissões luteranas sempre vislumbram a dimensão pastoral da identidade luterana – particularmente, sempre que se faz referência ao evangelho, cuja encarnação é Jesus Cristo em pessoa. A questão que sempre foi colocada é esta: Qual é a relevância pastoral das questões controversas e das minúcias teológicas em discussão? Que solução, além da sua conformidade bíblica, é apropriada, útil e reconfortante? O que é que está em jogo se não olharmos atentamente para este assunto em particular, se negligenciamos a formulação precisa? Como regra, as decisões então tomadas foram rejeições de posições extremas, tanto na “esquerda” como na “direita”. Essas posições extremas foram rejeitadas porque eram vistas como representando um sério perigo para a certeza da salvação.
Nessa medida, os textos confessionais constituem uma orientação para o cuidado pastoral: “A confissão doutrinal conduz e orienta a interpretação e o anúncio das Escrituras – e isso num contexto pastoral particular” (SLENCZKA, 2003, p.9-34). Para nós, como igrejas confessionais luteranas da ILC, é, portanto, ao mesmo tempo, significativo e útil, sobretudo no sentido de verificar a nossa identidade, voltar também a textos que têm várias centenas de anos.
Isso significa que, em todas as dimensões do trabalho da igreja, aqueles que tomam decisões, pelo menos aqueles comissionados pela igreja, devem continuar a refletir e aplicar ao nosso tempo a Palavra de Deus, à qual as Sagradas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento dão testemunho fundamental, exemplar e inviolável. Deste modo, a vida e a obra da igreja realizam-se a partir da interpretação, reflexão e aplicação das Escrituras e da confissão de fé. Por essa razão, é necessário em todos os níveis do trabalho eclesial continuar a dar um novo olhar à confissão de fé, que está vinculada à Sagrada Escritura, que é a Palavra de Deus documentada e, portanto, normatiza a igreja na doutrina, na liturgia, na autoexpressão e no governo.
Como as respostas que podem ser encontradas na forma condensada dos documentos confessionais do século XVI têm (podem ter) um alto grau de plausibilidade mesmo para os contemporâneos de hoje, elas oferecem no mínimo uma orientação para comunicar a fé também hoje – a fé cristã no seu significado para os nossos contemporâneos.
SOBRE O(S)CONTEXTO(S)
“Tudo existe em uma estrutura de referência e é visto e compreendido em um contexto”(ROSIN, 2018, p.229). Isso também se aplica à Teologia e aos teólogos: “Há um contexto atual para o pensador/teólogo, e há circunstâncias que rodeiam os leitores/ouvintes. E entre eles [...] está um texto que vem com um contexto” (ROSIN, 2018, p.221). Nenhum de nós tem acesso direto e imediato a fatos, acontecimentos ou documentos do passado, ou a circunstâncias e condições de vida num país diferente, até mesmo dentro de áreas diferentes de um determinado país. É por isso que, “para que haja entendimento, camadas da cultura devem ser descascadas, examinadas e reunidas – o que não é fácil, mas isso não é desculpa para um esforço reduzido. O pior é ser cego ao contexto, levando nossos pressupostos, perspectivas e valores para dentro do texto, e assim encontrando o que queremos” (ROSIN, 2018, p.221). Portanto, por exemplo, na história, teremos que prestar atenção à distância entre o nosso tempo e a época que investigamos. Ou em missões, teremos que olhar muito bem para as diferenças entre a nossa cultura, e a cultura a que o evangelho é dirigido.
Os pais das Confissões Luteranas estavam deliberadamente conscientes do caráter contemporâneo dos escritos confessionais no século XVI, mas ao mesmo tempo profundamente convencidos de estarem confessando a verdade eterna da Palavra de Deus. É notável, porém, que quase todas as Confissões luteranas foram subscritas por príncipes e outras autoridades “deste mundo”. Eles estavam agindo em nome de seus territórios na defesa da fé evangélica e, ao mesmo tempo, justificando o processo de reforma em curso diante do papa e do imperador alemão. Embora, devido às condições políticas do seu tempo, os movimentos de reforma tenham acabado num sistema de igreja estatal que prevaleceu até ao fim da Primeira Guerra Mundial (pelo menos na Alemanha), as igrejas luteranas que saíram da Reforma, particularmente as aderentes ao Livro de Concórdia, podem ser identificadas como uma expressão de emancipação dos poderes políticos e eclesiásticos que lutaram pelo domínio da Europa ao longo da Idade Média.
Os pais e mães das igrejas confessionais luteranas do século XIX estabeleceram, por assim dizer, uma postura de vanguarda. Eles colocaram questões e encontraram respostas que, em sua referência fundamental e permanente à Escritura, foram também contemporâneas e apropriadas. Desta forma, encontraram a atenção de seus contemporâneos; assim, um grupo de cristãos baseados na Bíblia, comprometidos com a igreja, se reuniu e tornou-se eficaz na sociedade, mesmo que apenas até certo ponto. Além disso, foram, pelo menos em matéria religiosa, pioneiros na luta pelos valores sociais da era moderna, como a liberdade de reunião, a liberdade de expressão e a liberdade de consciência. Os fundadores das igrejas confessionais luteranas na Europa, Austrália, América e sul da África provaram ser contemporâneos ao movimento de emancipação burguesa. Isso permanece verdadeiro mesmo se reconhecermos que os conteúdos teológicos, para os quais eles estavam preparados para trazer grandes sacrifícios, eram principalmente conservadores. No entanto, a reivindicação de independência religiosa, eclesiástica e teológica em termos de corpos eclesiásticos confessionais é parte integrante da nossa herança comum.
PERTINÊNCIA E TRANSFERÊNCIA
A tradução é inevitável em qualquer esforço teológico: ela é e continua a ser a nossa tarefa. Os dogmas trinitários e cristológicos como sendo modelados de Nicéia (325) a Constantinopla (381) ou Calcedônia (451), por exemplo, são paradigmas lúcidos para tais processos de tradução, e de forma bem sucedida. O ὁμοούσιος, sendo um termo não bíblico, descreve adequadamente o que a Escritura diz e ensina sobre Jesus e sua relação com o Pai (e, segundo São Basílio, também a relação entre o Pai e o Espírito Santo). Os pais da igreja antiga realizavam inúmeros debates sobre como entender e definir o termo. Assim, será essencial transferir o registro bíblico para o horizonte alvo de uma maneira apropriada, compreensível, convincente e demonstrável. Isso implica que tal processo não pode de forma alguma ser poupado de conflitos sobre a plausibilidade e “exatidão” de uma determinada tradução ou sugestão.
Ao mesmo tempoé preciso manter e afirmar que o espírito e o conteúdo dos documentos teológicos de tempos passados se aplicam aos dias de hoje, particularmente os antigos credos cristãos e os documentos do século XVI (KLÄN, 2015, p.49-56). Além disso, o que é necessário é a transferência da importante herança da história do cristianismo e da herança da Reforma luterana em particular. Inevitavelmente, teremos que considerar as circunstâncias, tempos, contextos, pessoas, relações e tradições, que foram depositadas nos textos dos reformadores luteranos. Pois uma compreensão histórico-contextual dos textos e confissões do século XVI é crucial (KOLB, ARAND, WENGERT, 2012, p.281). Isso significa que teremos que entender a mensagem de Lutero dentro do contexto de seu próprio tempo. Nem o esforço de Lutero por uma nova formulação da vida cristã, nem a situação do mundo real dos destinatários no século XVI,nem a diferença entre a visão de mundo da era da Reforma e os nossos dias (KOLB, ARAND, WENGERT, 2012, XIV-XIX),[8] podem ser negligenciados.
Juntamente com Robert Kolb, afirmamos que a theologiacrucis de Lutero é o “conceito abrangente necessário para entender o seguinte: a revelação de Deus e a confiança nela que se torna verdadeiramente possível na vida humana, a expiação com o pano de fundo da morte e ressurreição de Cristo, e a vida cristã”.[9] Para Lutero, só sob a cruz é que se pode saber: 1) quem Deus realmente é, 2) como uma pessoa deve se comportar em relação a Deus, 3) o que acontece às pessoas sem Deus e o que Deus inflige em tal condição humana, e 4) como é a vida de um discípulo que confia em Cristo no dia-a-dia (KOLB, 2010, p.20). Além disso, Kolb vê o conceito de Lutero de “dois tipos de justiça” como a verdadeira descoberta principal da teologia luterana e, portanto, o real programa teológico da Reforma de Wittenberg (KLÄN, 2015).
O modo de pensar de Lutero inclui uma visão esclarecedora da condição humana e está qualificado para responder às perguntas de nossos contemporâneos: “Quem sou eu? Por que estou neste mundo? O que faz a vida valer a pena? Como estabelecer limites apropriados para definir a minha vida? Como posso ser verdadeiramente livre?” (KOLB, ARAND, 2008, p.222; KLÄN, 2015).Uma tradução da theologia crucis (KOLB, 1993, p.220-229) de Lutero soa assim: “Num tempo de profunda dúvida sobre a existência e o amor de Deus, a cruz mostra-nos como Deus se revela no meio do mal que ameaça a nossa vida. Em Cristo, a cruz nos mostra quem é Deus. Num tempo de profunda dúvida sobre a existência humana e o seu valor, a teologia da cruz define a vida do ponto de vista da presença de Deus e do seu amor às suas criaturas. Em Cristo, a cruz revela a divindade de Deus e a nossa humanidade” (KOLB, 2010a, p.34; KLÄN, 2015).
Em vez de lamentar de alguma forma como vergonhosa a singularidade da igreja luterana, na medida em que escreveu a sua compreensão do evangelho e a sua própria autocompreensão num Corpus Doctrinae com a Fórmula da Concórdia e o Livro de Concórdia, devemos valorizar esta abordagem como uma contribuição para o trabalho ecumênico nos nossos dias. Isso porque o cristianismo no século XXI ainda tem a ver com a proclamação da Palavra de Deus e com a difusão da mensagem de justificação em Jesus Cristo (KLÄN, 2015). “(Os confessores do século XVI) puseram em jogo muita coisa, incluindo suas vidas, para trazer o evangelho de Jesus Cristo para sua igreja e sua sociedade. Nisto eles fornecem um modelo para a vida cristã e testemunho também para o nosso tempo” (ARAND, KOLB, NESTINGEN, 2012, viii). E exatamente por esta razão, a “forma de pensar de Wittenberg” é frutífera para a igreja nos dias de hoje (KOLB, ARAND, 2008). Lutero praticamente se torna um interlocutor para os cristãos no século XXI, sobretudo no que diz respeito ao desenvolvimento de situações críticas (KOLB, ARAND, 2008). Por último, mas não menos importante, tal abordagem é uma forma de traduzir através da brecha histórica de séculos e através de barreiras culturais (KOLB, 1995, p.13; KOLB, ARAND, 2008, p.19).
Dois pressupostos aqui devem ser esclarecidos: o primeiro postula que Deus formou a existência humana com dois aspectos fundamentais, o segundo que Deus trabalha através de sua Palavra e, portanto, em muitos modos diferentes de aplicação. O pressuposto antropológico significa, em primeiro lugar, que o ser humano é verdadeiramente humano, isto é, a criação de Deus, só pela bondade e favor de Deus, e, em segundo lugar, que a humanidade demonstra a sua relação com as outras criaturas por meio de atos de amor. O pressuposto teológico postula que a aplicação da Palavra de Deus em suas formas oral, escrita e sacramental (KOLB, 2009, p.131-151; KOLB, ARAND, 2008, p.175-203), não só informa sobre a disposição celestial de Deus, mas muito mais com base no Verbo encarnado de Deus, Jesus Cristo, ela realmente produz e concedeverdadeira vida nova (KOLB, ARAND, 2008, p.12).
É possível, de fato, fazer uma ponte entre, por um lado, a abordagem de Lutero (e Melanchthon) às questões do significado da humanidade e da autorrevelação de Deus e, por outro, uma abordagem semelhante no nosso tempo e para as nossas questões (KOLB, ARAND, 2008, p.20). O que “a boa vida” significa e pode ser é constituído ainda hoje pela disponibilidade dos cristãos para entrar em cada dia com uma prontidão para servir dentro das diferentes e até mesmo sobrepostas estações da vida, que correspondem ao chamado atual de Deus para a minha situação e o chamado de Deus para as minhas circunstâncias atuais (KOLB, ARAND, 2008, p.20).Trata-se de uma vida responsável, comunitária e de serviço à comunidade, dentro de um mundo dado em conjunto por Deus.
Além disso, os cristãos se envolvem intensamente na sociedade nos modos de vida e práticas culturais do seu contexto, por um lado, assim como, por outro lado, levam os seus valores para a vida e o mundo da sociedade (KOLB, 1993, p.272). A maneira e o tipo de interação entre ambos são, naturalmente, altamente complexos e, portanto, igualmente complexa é a realização de qualquer tipo de avaliação de suas interações (KOLB, 2008, p.6). No entanto, isso não pode ser jogado contra a observação de que a nova maneira de Lutero afirmar as realidades fundamentais da vida humana tem funcionado e ainda está funcionando através de gerações e culturas (KLÄN, 2015).
CULTURA(S)
Para falar em cultura(s), começamos com esta definição: “O termo refere-se ao conjunto orgânico e dinâmico de atividades e relações humanas que definem o significado e importância da vida de um grupo específico de pessoas.” [...] “As instituições dentro de uma cultura têm as suas próprias culturas.” […] “A igreja também sempre existiu como uma unidade cultural distinta dentro dos povos e terras, das sociedades e culturas, nas quais o Espírito Santo a colocou” (KOLB, 2010b, p.7).
A igreja e seus membros funcionam como comunicadores da mensagem de Deus para todas as pessoas, não menos para aqueles que ainda não foram atingidos ou alcançados pela mensagem bíblica. No entanto, eles são e continuarão a ser os destinatários da salutar vontade de Deus. “A comunicação de Deus aos que estão fora da fé se dirige a esses seres humanos como as criaturas que ele os modelou, com reivindicações inteligíveis e ofertas compreensíveis da bondade e misericórdia de Deus. [...] A maneira de pensar de Deus encontra a maneira humana de pensar dentro do quadro da sua ordem criada para a comunicação” (KOLB, 2010b).
É desígnio de Deus alcançar os seres humanos que se afastaram dele, se esqueceram dele, e – falando da situação em áreas pós-cristãs do mundo – até esqueceram que se esqueceram de Deus: “As verdades imutáveis da Escritura devem ser proclamadas a seres humanos específicos em seus ambientes específicos, na medida em que o evangelho aborda suas realidades e traz poder para mudar essas realidades através do perdão e da promessa de nova vida em Cristo. A Palavra de Deus não só descreve a realidade, mas também a cria” (KOLB, ARAND, 2008, p.13).
No curso da história, particularmente no curso da propagação das igrejas luteranas por toda a Alemanha, Europa e mundo, podemos ver que “os luteranos afirmaram tanto a bondade de suas culturas, que vem da criação, como, ao mesmo tempo, serviram como críticos aguçados ao que suas culturas fazem em oposição à vontade de Deus”. Isso é verdade sobretudo na história da missão luterana: “As igrejas missionárias luteranas [...] muitas vezes viveram em conflito com valores culturais tradicionais, mas também tentaram afirmar e enriquecer esses valores (KOLB, 2010b, p.10).
CONTEXTOS DESAFIADORES
Para Werner Elert, em sua obra magna A Estrutura do Luteranismo, o luteranismo não é “uma variável outrora configurada e concluída, mas sim uma variável que se encontra vivendo sua história” (SLENCZKA, 1999, p.148). Interdenominacionalmente, a “dinâmica confessional” está em “competição independente com ‘motivos extracanônicos’” que, “no curso da iluminação”, é ameaçada pela “perda da abordagem evangélica” (SLENCZKA, 1999, p.149). Ele continua dizendo que foi somente no século XIX que ocorreu uma “restauração luterana”, induzindo a “abordagem evangélica” a “gerar formas inteiramente novas de expressão”, até a “sociologia e ideologia” (SLENCZKA apud ELERT, 1999, p.150). Segundo Elert, ocorre inicialmente uma “fusão indissolúvel da forma histórica do luteranismo com a cultura alemã”, mas também “com outras nacionalidades” (ELERT, 1932, p.131), como ele tenta demonstrar com a Hungria, os povos eslavos e bálticos, a Finlândia e as nações escandinavas (ELERT, 1932, p.169-250). Neste contexto, mesmo o “desenvolvimento do iluminismo alemão em direção ao idealismo alemão através da literatura nacional alemã” deve ser visto como “uma fase na história do luteranismo. É a história da sua secularização”. Este ponto de vista culmina com a afirmação de que “a história intelectual da Alemanha é, em geral, um efeito de longa distância do Luteranismo (SLENCZKA apud ELERT, 1999, p.227).
Essa proposição pode muito bem ser questionada. Em 1934/36, e em claro contraste com seu colega em Erlangen, Hermann Sasse advertiu contra três erros de construção da Reforma luterana: “O próprio luteranismo [...] não responde (à pergunta: O que é luterano?). Ele é incapaz de dar uma resposta àqueles que perguntam sobre a sua essência; é um conceito mudo. É um assunto diferente, porém, se perguntarmos a respeito da igreja luterana. A igreja evangélico-luterana não é uma ideia, ela é uma realidade. Ela não é muda, ela fala” (SASSE, 1934, p.12). Ele afirma ainda que o erro da interpretação heroica culmina em veneração do herói e na apoteose de Lutero (SASSE, 1934, p.3136). O erro de interpretação nacional aparentemente vê Martinho Lutero como sendo o “protesto do homem nórdico contra a piedade e o sistema eclesiástico do catolicismo romano” e visa uma igreja nacional alemã, que tinha surgido durante o “Terceiro Reich”. Para Sasse, esta é uma das “heterodoxias mais perigosas” (SASSE, 1934, p.49).
Setenta anos depois de Elerte Sasse, Charles Taylor programaticamente falou de uma “era secular” (TAYLOR, 2009, p.51),para as áreas no noroeste do mundo no nosso tempo. No decorrer dos processos que começaram por volta de 1500, chamados de “REFORMA” por Taylor, houve um progressivo “desencanto” do mundo. Finalmente, o conceito de “isolamento da imanência” resulta disso. Na grande narrativa de Taylor, no entanto, é preciso levar em conta que, de qualquer forma, pode-se esperar que os desenvolvimentos sejam desiguais. No entanto, Taylor duvida que seja possível um retorno às crenças antigas e às formas de organização religiosa correspondentes, embora a questão da formação da identidade, não menos importante de uma identidade coletiva, ainda deva ser colocada.[10]
Assim, são necessárias análises profundas da “era secular”. Estas se aplicam – apenas para listar alguns exemplos de um livro recentemente publicado sobre “Teoria da igreja”– ao que é chamado de “sociedade de risco”, “individualização”, “sociedade em busca de emoção”, “sociedade midiática”, “religião de dados”, e teorias sobre “relação mundial”, “gerações”, e “metamorfose” (GRETHLEIN, 2018, p.210). Todos esses fenômenos nos chamados países “desenvolvidos”, mas, entretanto, muito além desses, podem ser caracterizados como ambivalentes: o aumento do bem-estar é ameaçado por riscos técnicos, a individualização suporta o risco de isolamento social, as tecnologias de internet ameaçam o ser humano de ser subjugado por algoritmos (GRETHLEIN, 2018, p.227). Esta abordagem certamente inclui ferramentas empíricas e sociológicas para descrever a “realidade”da(s) igreja(s) [na Alemanha].
DESTAQUES CONTEXTUAIS (SEM QUALQUER EXPECTATIVA DE SER COMPLETO)
África
Na primeira Conferência dos Seminários Mundiais do Conselho Luterano Internacional [ILC], que se realizou em Canoas, RS, Brasil, em 2001, RadikoboNtsimane, falando da África do Sul, diferenciou entre a “cultura dominante”, a “cultura resistente”, e a “cultura obediente”. Esta “cultura obediente” tem como elementos:“compreensão do texto”, “compreensão do contexto” e, finalmente, “obediência ao texto” (NTSIMANE,2006, p.52-67). Ele chega à conclusão de que “Esta interpretação da Palavra de Deus que tem Cristo no centro serve para desafiar e transformar todas as culturas de todos os tempos para se conformarem ao amor de Cristo, o caminho, a verdade e a vida, na sua relação com as culturas ‘superiores’ e ‘inferiores’” (NTSIMANE,2006, p.69). Em sua resposta, Nelson Umwene destacou o princípio de que a Escritura deve “ser entendida em seu sentido nativo, segundo a gramática, o contexto e o uso linguístico daquele tempo”. Além disso, ele observa que nós “devemos também interpretar as Escrituras inerrantespelas diferentes culturas de modo que as Escrituras sejam entendidas damelhorforma possível pelas diferentes culturas, no sentido nativodestas , de acordo com a gramática, o contexto e o uso linguístico deseu tempo (Atos 2.11b)”. É o trabalho fiel na exegese que nos introduz ao estudo do contexto, e consequentemente da cultura da sociedade que forma o contexto. Estes exercícios (análise/exegese da linguagem e do contexto cultural tanto das Escrituras como dos receptores) são muito importantes para o intérprete e para a interpretação da Palavra de Deus” (UMWENE, 2006, p.90).
David Tswaedi, que foi bispo da nossa igreja-irmã, a igreja luterana na África do Sul, fez uma vez a seguinte declaração: “Creio firmemente que o reconhecimento da diversidade dos ambientes humanos exige a comunicação do evangelho, o ensino, a pregação e a adoração, de uma forma que não seria uma fotocópia da forma de fazer as coisas por parte da igreja emissora. A falta ou negação de que os africanos possam cantar e adorar a Deus como africanos sugeriria o medo de não poder expressar a mensagem em uma cultura africana sem mudar a mensagem.[11] Isso irá evidenciar ainda mais a incapacidade da igreja africana de distinguir entre a cultura do hemisfério norte e a medula do evangelho. Essa incapacidade de continuar a disputar a encarnação cultural do evangelho reforçará a desculpa perene de definir a igreja e tudo o que ela representa como instituição estrangeira ou, no pior dos casos, como um repositório colonial. Há uma preocupação geral em alguns quadrantes de que se os luteranos africanos adorassem e cantassem como africanos eles estariam em perigo de tendências sincretistas, movidos por sentimentos, ou por tendências pentecostais”.[12]
Brasil
A língua e a cultura alemã foram o vínculo além das diferenças teológicas e denominacionais no campo dos imigrantes alemães no Brasil. Os tons patrióticos não podem ser desconsiderados. O luteranismo e a germanicidade tornaram-se (quase) idênticos. No século XX, é possível encontrar alinhamentos com a ideologia nazista, assim como simpatia pela “igreja confessora” em sua luta contra os “cristãos alemães”. Após o Brasil ter entrado na Segunda Guerra Mundial, uma atitude nacionalista levou à perseguição e prisão de pastores alemães.
Na perspectiva sul-americana, os pobres e explorados são capazes de se identificar com o humilde Jesus de Nazaré, que no final triunfa sobre os poderes malignos. A libertação, porém, é a libertação que leva a servir o próximo. A igreja, em primeiro lugar, existe como congregação (local). Ela lembra às autoridades governamentais o dever de combater a injustiça e a exploração. Assim, a doutrina dos dois reinos torna-se relevante no contexto latino-americano.
Alemanha
De acordo com as últimas estatísticas na Alemanha, as duas principais igrejas na Alemanha perderam 216.000 membros (católicos romanos) e 220.000 membros (protestantes), um aumento destes números em aproximadamente 30% (católicos romanos) e aproximadamente 12% (protestantes) em comparação com 2017. Muitas razões podem ser apontadas para estas mudanças, não menos importantes os escândalos de abuso de crianças nas igrejas – o que, a propósito, é obviamente um problema social maior; mas é vergonhoso que as igrejas, mesmo neste aspecto, não sejam muito diferentes da nossa sociedade pós-cristã, ou secular. A(s) igreja(s) como instituição(ões), porém, na Europa Central está(ão) enfrentando enormes desafios. Um deles são os chamados “meios de comunicação social”; nestes, a grande questão é ser “relevante”: Portanto, a “atenção” tem que ser gerada, porque de outra forma, a comunicação não poderia ser levada a cabo com sucesso (GRETHLEIN, 2018, p.14). A comunicação do evangelho, porém, é o centro da religião cristã.
Hungria
O que é especial nas confissões da Hungria real[13] não é a interdependência das circunstâncias políticas e das confissões em si, mas o contexto civil e multinacional das confissões. Três confissões das cidades reais livres e das cidades mineiras reais testemunham o papel inicialmente notável da burguesia na afirmação das aspirações da Reforma na Hungria real. Os estudantes húngaros que estudaram em Wittenberg vieram de uma formação burguesa. Compreensivelmente, a extraordinária importância da nacionalidade alemã é esperada na aceitação das Confissões. Mas neste contexto da Europa Central, a Confissão de Augsburgo é uma confissão em que três nacionalidades participaram simultaneamente: alemã, húngara e eslovaca. A recepção da Confessio Augustana mostrou também que a multinacionalidade e o multiculturalismo não constituem um obstáculo à aceitação de uma confissão.
Japão
Uma maneira de explicar que o legado evangélico de Lutero não é mais predominante neste país, é o fato do contexto particular japonês. Porque as forças religiosas e culturais dominantes são muito fortes e porque as igrejas cristãs são uma minoria, os cristãos sentem uma ligação mais estreita uns com os outros, não só dentro de vários corpos da igreja luterana, mas também através de todas as denominações cristãs. As diferenças confessionais entre os cristãos são vistas como bastante triviais em comparação com os inimigos comuns mais gigantescos. Muitos cristãos japoneses sentem que um cristianismo dividido só consegue enviar uma mensagem negativa para os não cristãos (ISHIDA, 1969, p.40). Obviamente, isso é algo que geralmente acontece em todos os campos missionários estrangeiros (BERGT, 1964, p.71). Mas as características únicas do Japão e, de forma semelhante, da Ásia, são a esmagadora diversidade de religiões e visões do mundo, a profundidade histórica das tradições culturais locais e o caráter emocional da espiritualidade que descarta o pensamento racionalista. Afinal, o que as sociedades ocidentais passaram a conhecer como pós-modernismo, com seus acentos de ambiguidade, cura, gosto, progresso e escolha, tem existido no solo japonês por séculos. As igrejas luteranas no Japão lutam. Elas são uma minoria da minoria na sociedade. Elas estão cercadas por forças religiosas e culturais anticristãs incrivelmente fortes vindas de fora, e por um ambiente doutrinário não luterano vindo de dentro. Apesar destes desafios, Jesus ainda é o Senhor da igreja, também no Japão.[14]
Estados Unidos
Para a América do Norte, Robert Kolb identificou como desafios para o testemunho cristão os seguintes: pluralismo, secularização, especialmente o abandono à religião, e o individualismo, com claras tendências ao narcisismo (KOLB, 1995, p.11, 32 e 182). Além disso, ele também lista o fenômeno do afastamento e os sentimentos de falta de sentido e impotência, e, por último, mas não menos importante, tudo isso diante da realidade da morte (KOLB, 1995, p.86-96). O pensamento de Lutero, porém, afirma Kolb, aborda as preocupações e questões norte-americanas de hoje com sua antropologia centrada na confiança pessoal e seu ensino dos aspectos passivo e ativo da identidade ou retidão humana; com sua compreensão da natureza “performativa”, ou realmente criativa/re-criativa da Palavra de Deus nas formas oral, escrita e sacramental; com seu conceito de vida diária no contexto das vocações; e com sua ênfase na experiência do relacionamento pessoal com Deus em Cristo.
ABORDAGENS TENTATIVAS DE RESPOSTAS
A confissão de um cristão é, primeiro, dar uma resposta e, segundo, dar um testemunho; durante todo o tempo, porém, ela dependedo poder vivificador da própria Palavra de Deus, que deseja alcançar todas as pessoas (KOLB, 2012, p.132). Tal confissão será também convidativa, pois constrói a ponte entre a Palavra de Deus nas Sagradas Escrituras e as diferentes situações e culturas, nas quais Deus espera o nosso testemunho. Deste modo, as testemunhas não esquecerão que a promessa do Senhor da igreja se aplica a elas como ao “pequeno rebanho” (Lc 12.32). Porém, isso não impediráninguém de proclamar as grandes obras de Deus aos povos da terra (KOLB, 1993, p.272, 274, 298).
A transferência para o nosso tempo – que é o dever da igreja através do anúncio da lei e do evangelho para este tempo e para o mundo – já foi realizada e estabelecida de forma exemplar nos documentos confessionais da Reforma luterana, como consta do Livro de Concórdia. Mas, precisamente dessa maneira, essas declarações confessionais se constituem em uma orientação para o ato de confessar, sendo declarações que articulam e tornam possível uma compreensão da existência cristã e da vida da igreja que é ao mesmo tempo bíblica e contemporânea – pura e simplesmente proclamando a vontade de Deus e comunicando o evangelho.
Três proposições feitas por ArminWenz podem nos ajudar a focalizar esta tarefa no caminho do caráter distintivo e da demarcação: “Estar vinculado às Confissões ajuda a igreja a permanecer diferente e distinguível do mundo”. “A obrigação confessional ajuda a igreja a evitar falsos conceitos de unidade eclesial” (WENZ, 2013, p.83 e 84). “A obrigação confessional protege a integridade da igreja e os direitos do pecador justificado contra qualquer suposta melhoria que seria necessária econtra qualquer depravação da fé bíblica em Cristo” (WENZ, 2013, p.83-85).
O que se exige de nós, então, é uma resposta teológica aos desafios que nós como igrejas confessionais luteranas, pastores e estudiosos, estamos enfrentando em nosso tempo e dia, e às nossas situações específicas e condições de vida em nossos vários países, continentes e climas. De modo algum queremos negligenciar os chamados “fatores não teológicos”, de fato. No século XXI, no qual o mundo sob a bandeira das novas tecnologias, das novas forças econômicas, dos novos arranjos políticos e das novas realidades sociais, juntamente com o perigo representado pela contínua pecaminosidade da humanidade, cria riscos que põem em perigo a vida e nos roubam a nossa humanidade. Juntamente com outros colegas e irmãos, estou profundamente convencido de que a mensagem luterana da nova identidade do ser humano, dada por Deus, e a partir dela a forma dada de verdadeira vida humana não apenas conserva a sua validade como também assume um novo significado (KLÄN, 2015).
Contudo, o cristianismo tem e continua a ter a obrigação de ser crítico em relação à sua própria contemporaneidade. Afinal, a igreja e os seus membros não podem escapar à contemporaneidade, nem se pode negar que os seus membros sejam influenciados e imperceptivelmente governados por “modas” e tendências de um mundo e de uma sociedade que não está apenas “à sua volta”, mas no qual eles próprios vivem e que, consequentemente, também tem um efeito sobre o seu ser. E mesmo na rejeição dos desenvolvimentos contemporâneos em que a igreja ou os seus membros individuais, com base na sua responsabilidade cristã, são de opinião que isso deve ser recebido com desaprovação, tal posicionamento revela-se de natureza contemporânea.
Os cristãos e a igreja, reivindicada pelo seu Senhor, não têm nada a encobrir e nada a esconder no que diz respeito à situação difícil dos homens e da nossa sociedade contemporânea. Eles desempenharão corajosamente a sua tarefa, independentemente do poder, da riqueza ou da influência dos homens. Eles não se acovardarão diante dos poderosos, e não se acovardarão diante dos responsáveis pelo Estado, pela sociedade ou pela economia – digo isso porque a história da igreja é também uma história de fracasso à luz desta responsabilidade. A história das alianças entre trono e altar, cristianismo e poder, igreja e ditador, demonstra esses fracassos de forma muito clara. Se a igreja deseja fazer justiça à sua missão, não cederá às tendências da maioria e à opinião pública e popular dominante.
Portanto, continua a ser tarefa da igreja proclamar essa mesma “justa e imutável vontade de Deus” (Formula of Concord - Solid Declaration, 17), para seu mundo e sua população, de uma maneira que seja relevante para os dias de hoje. A igreja é assim obrigada a ser crítica em relação ao seu contexto contemporâneo. A vida contemporânea afeta também a igreja e os seus membros. Não se pode negar que a igreja é influenciada e afetada pelas “modas” e tendências da sociedade mundial. Estes movimentos não só encontram expressão “fora e ao redor” da igreja, mas também se infiltram na igreja. No entanto, a igreja demonstra que é contemporânea quando resiste a desenvolvimentos atuais que ela não pode aprovar.
Por isso a igreja deve lidar criticamente com as questões contemporâneas. Quando o faz, isso demonstra que ela está consciente de que está inevitavelmente ligada ao seu contexto. Para que a nossa mensagem seja crível, a igreja dirá ao mundo fora das nossas portas o que temos a dizer, mas primeiramente a nós mesmos. A igreja, juntamente com cada um dos seus membros, deve também admitir e confessar, pessoal e corporativamente, os erros e falhas que se opõem aos padrões divinos. Isso não invalidará a credibilidade da mensagem da igreja, mas a fortalecerá, desde que falemos com humildade – que deriva de um reconhecimento de seus próprios fracassos, mais do que com uma atitude de arrogância.
Quando a igreja fizer isso, ela será então capaz de falar sobre essas questões em nossas nações e tempos em que os padrões divinos da vontade de Deus tenham sido abandonados, desprezados ou rejeitados de forma irresponsável. Teremos então que proclamar que Deus em sua santidade não permitirá que tais ofensas e revoltas sejam toleradas ou passadas adiante. Ao mesmo tempo, porém, falaremos ainda mais claramente que o próprio Deus, em seu Filho, Jesus Cristo, já venceu esse mal, para que nossos ouvintes contemporâneos não sejam lançados à arrogância ou ao desespero (Formula of Concord - Solid Declaration, 17). Proclamaremos – em conformidade com nossa tarefa e missão – que Deus, que é visível em Jesus Cristo, tomou sobre si a reparação da comunhão rompida entre ele e a humanidade, a fim de libertar a totalidade da humanidade e cada ser humano individual dos laços injuriosos em que estamos atolados, do domínio dos poderes ruinosos, ao redor e dentro de nós, e do destino autoinfligido de destruição ameaçadora.
PERSPECTIVAS CONFESSIONAIS E ECUMÊNICAS
As implicações que as mudanças globais têm para nossa identidade como luteranos e nosso testemunho confessional devem ser repensadas dentro de nossas próprias fileiras. A este respeito, temos que lembrar que “a igreja reconhece o fato de que sua proclamação não acontece no vazio. A missão acontece em um determinado contexto. Nesse contexto, a missão se engaja em alguma forma de diálogo, seja qual for a situação”. A igreja deve aprender a escutar para responder aos gritos e às crises do nosso tempo. Isso representa uma tarefa assustadora e desafiadora” (SCHULZ, 2009, p.301).
É bastante provável que, pelo menos na Europa, o cristianismo, ou melhor, a igreja tome uma forma semelhante à que teve nos três primeiros séculos, sendo uma minoria, desprezada, ridicularizada, marginalizada, suspeita, negligenciada, deslocada, perseguida e até morta. Não vejo o Senhor prometer à sua igreja ser um fator ou instituição cultural, política, moralmente influente e até predominante neste mundo. Esse sonho sedutor pertence mais intimamente à ideologia imperial e ao entusiasmo eclesiástico da era constantiniana, que, concordo, é difícil de deixar para trás. Mas acredito no que o Senhor promete,“que as portas do inferno não a vencerão” (Mt 16.18).
Vivendo num ambiente pós-cristão, será muito necessário que a missão das igrejas luteranas na Europa se apegue fielmente às suas raízes bíblicas e confessionais, se dedique à tarefa de traduzir e transferir a herança bíblico-luterana para uma linguagem compreendida pelos povos contemporâneos, sustentada por formas autênticas de viver e trabalhar juntos. Pelo menos esta é a experiência histórica da Igreja Evangélica Luterana Independente (SELK): Deus pode usar pequenos círculos de crentes verdadeiros e empregar grupos menores de cristãos que testemunhem fielmente o evangelho, como bases abençoadas para a sua missão.
Todas as igrejas luteranas confessionais da ILC estão comprometidas em determinar nossas decisões somente com base na Palavra de Deus, e não em considerações sociais, culturais ou práticas. Este objetivo, no entanto, é muito mais fácil de ser dito do que feito. O pré-requisito para esta tarefa é, naturalmente, que recordemos continuamente as palavras do Antigo e do Novo Testamentos, que são o nosso fundamento, estabelecem os nossos padrões e são o nosso objetivo inabalável mesmo nestes tempos ecumênicos. Nossa confissão também deve ser repetidamente trazida de novo à mente: ela é obrigada a proclamar a Palavra de Deus e é, portanto, um desafio constante e obrigatório para a igreja em sua liturgia, ensino, governo e autoexpressão. Desta forma nos tornamos parte do movimento gêmeo da igreja em direção à unidade: ser reunidos e ser enviados.
Em todos estes casos existem e existirão diversas diferenças na pregação, ensino, educação de adultos, trabalho missionário, envolvimento social, a posição no meio social como vista pela(s) igreja(s) (e pelos de fora), diferenças também na compreensão e descrição das responsabilidades resultantes de determinado contexto e das possibilidades realistas. Além disso, as mudanças no tipo de cristianismo que está surgindo, especialmente no que é chamado de “sul global”, não podem ser negligenciadas. Pode parecer que o processo de secularização, como ocorreu no mundo “ocidental” pelo menos, seja irreversível – o que, por outro lado, ainda não está definido.
Em todo caso, deve ser considerado seriamente que as raízes e requisitos da igreja luterana são basicamente ecumênicos. O prefácio e a Confissão de Augsburgo nos artigos I e VII, a explicação de Lutero sobre o terceiro artigo do Credo, a primeira parte dos Artigos de Esmalcalde e a Suma, Regra e Norma da Fórmula de Concórdia, só para citar alguns dos textos básicos relevantes, são uma testemunha fundamental disso. Os pais da igreja no início das igrejas confessionais luteranas na Alemanha, na primeira metade do século XIX, estavam cientes desta responsabilidade verdadeiramente ecumênica. Neste sentido, era bastante lógico para Wilhelm Löhe descrever a igreja luterana como o “centro reconciliador das confissões”.
Portanto – apenas reiterando uma afirmação que venho fazendo há vinte anos – deveríamos deliberar sob que condições, em que forma, com que recursos e com que consequências poderíamos também lutar por uma comunhão global entre os luteranos confessionais através do Conselho Luterano Internacional (ILC). Seria certamente uma tolice subestimar os problemas geográficos, históricos, organizacionais e financeiros que acompanham tal projeto em nível mundial. Mas todas essas coisas não devem ser obstáculos reais no caminho para uma igreja luterana confessional global se quisermos levar a sério nossa herança e nossas responsabilidades.
A ILC poderia então ser e tornar-se cada vez mais um contrapeso apropriado a um luteranismo cada vez mais não confessional, e poderia fornecer uma correção bem fundamentada e perfilada aos desenvolvimentos e objetivos teológicos e político-eclesiásticos que diminuem, abandonam, ou tendem a aniquilar a herança teológica e a postura confessional da igreja luterana, como é circunscrita e definida nas Confissões Luteranas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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[1] Apresentação na 7ª Conferência Mundial de Seminários do Conselho Luterano Internacional, na cidade de Baguio, Filipinas. Texto traduzido pelo professor Gerson Luís Linden.
[2] Professor no Seminário Luterano em Oberursel, Alemanha.
[3] Cf. seus argumentos sobre a tradução de communio sanctorum no Catecismo Maior, CM, O Credo, O Terceiro Artigo, 47-50, Kolb/Wengert, 436s.
[4] CM, O Credo, O Terceiro Artigo, 52s.; 62, Kolb/Wengert, 438s. 5 BSELK (= Livro de Concórdia, edição crítica), 42.
[5] CA VII, 1, Kolb/Wengert, 42.
[6] Foi Nikolaus Selnecker, quem, na primeira edição do Livro de Concórdia, denominou os antigos Credos cristãos ali incluídos como: “Tria Symbola Oecumenica – Os três Credos Ecumênicos”, cf.
Kolb/Wengert, 19.
[7] Cf. Werner Klän: Einführung zum Symposium “Lutherische Identität in kirchlicher Verbindlichkeit”, in: Werner Klän (Ed.):Lutherische Identität in kirchlicher Verbindlichkeit. Erwägungen zum Weg lutherischer Kirchen in Europa nach der Milleniumswende, (= Oberurseler Hefter, Ergänzungsband 4), Edition Ruprecht, Göttingen 2007, 15-28; ver: Thesen zur Kirchengemeinschaft. Entschließung der Teilnehmer der European Regional ILC Conference (Antwerpen, Belgien 11-14. June,
[8] Cf. Kolb, Martin Luther as Prophet, Teacher, Hero: Images of the Reformer, 1520-1620 (Grand Rapids: Baker, 1999), 225.
[9] Esta citação, aqui traduzida, é de: Robert Kolb, Deus revelatus – Homo revelatus (2010, p.14-15).
[10] Charles Taylor: Die FormendesReligiösen in der Gegenwart, Frankfurt/M. 2002, 63; mas ao mesmo tempo Taylor observa a respeito das sociedades do Atlântico norte que as pessoas dali estão da mesma forma alienadas da(s) igreja(s), mas estão dominadas por uma “cultura fragmentada” ou um “mundo fragmentado”, p.95.
[11] A narrativa dos dois poderosos cavaleiros, um do norte e outro do sul, Naamã e o eunuco etíope, podem ser usados como outro aspecto a respeito disto. Um deles, após ouvir a mensagem do profeta, comparou o rio no qual ele foi instruído a se lavar com os rios mais largos de sua terra. O outro, tendo recebido a orientação de um evangelista, antecipou-se ao mestre ao ver a água. Ele não quis ser batizado em Jerusalém, mas nas águas estagnadas à beira da estrada.
[12] Os instrumentos musicais africanos, como os tambores de pele de vaca, foram desencorajados por estarem ligados ao culto dos antepassados. Hoje em dia, o canto e o balançar é caracterizado como não luterano, porque o culto é mais fazer algo para Deus e não o inverso. A dança e o bater de palmas é decretado como “schwaemerisch”, etc.
[13] L‘ubomir Batka, Die Bedeutung der reformatorischen Bekenntnisse für die Unikonfessionalität und Multikulturalität; palestra apresentada em 2016 no Simpósio do Lutherische Theologische Hochschule, em Oberursel, Alemanha: Martin Luther – Uni-confessional – Multi-Cultural (a ser publicado em 2020).
[14] Naomichi Masaki: The Impact of Martin Luther on Christianity in Japan, ensaio a ser publicado nos Anais do Simpósio do Lutherische Theologische Hochschule, em Oberursel, Alemanha: Martin Luther – Uni-confessional – Multi-Cultural (a ser publicado em 2020).